Teoria da Mudança: um modelo para planear e medir o impacto social
Tem dificuldade em medir o impacto das iniciativas da sua organização social? Então está na hora de implantar um novo modelo para planear e medir o seu impacto – a Teoria da Mudança. Se nunca ouviu falar sobre esta estratégia, saiba que este é o método mais escolhido pelas Organizações da Sociedade Civil (OSC) com foco em transformação social.
Para fazer iniciativas com resultados favoráveis, que solucionem um problema social ou ambiental, é necessário realizar um trabalho estratégico de planeamento prévio. A teoria da mudança ajuda a criar um painel visual com todas as partes necessárias para analisar a eficácia e viabilidade de projetos sociais, de forma simples e funcional, facilmente legível por qualquer membro da empresa.
Neste artigo vai encontrar informação sobre:
- O que é a Teoria da Mudança e para que serve;
- Passo-a-passo para criar a sua estratégia;
- Dicas úteis para a sua implementação.
Ficou curioso? Então continue a ler! Temos muita informação para partilhar consigo sobre este tema.
O que é a Teoria da Mudança e para que serve
Um dos maiores problemas que encontramos quando tentamos alcançar um objetivo é a falta de planeamento. Frequentemente, definimos ideias e metas, mas não paramos para pensar com detalhe que caminho devemos seguir para atingir esses objetivos.
É nesse ponto que a Teoria da Mudança se foca. Esta estratégia encoraja as OSC a refletir sobre as suas metas, trocar ideias e discutir opções e, depois, definir um plano e colocá-lo no papel, com uma grande componente visual para que o rumo a seguir fique bem explícito para todos os membros da equipa.
Esta ferramenta funciona como um roteiro que pode ser utilizado para ajudar a sua OSC a desenvolver estratégias e tomar decisões.
Com a Teoria da Mudança vai conseguir:
- Ter uma visão mais estratégica e objetiva sobre o que é realmente preciso fazer para alcançar as suas metas;
- Criar um planeamento mais robusto das iniciativas que vão ser realizadas;
- Envolver todos os stakeholders numa visão partilhada e comum;
- Orientar e alicerçar processos de decisão estratégica;
- Criar expectativas realistas sobre a iniciativa e os seus possíveis resultados;
- Apoiar processos de planeamento, monitorização e avaliação das suas iniciativas;
- Otimizar o tempo e recursos da sua OSC e eliminar tarefas pequenas e redundantes;
- Conseguir monitorizar e medir resultados ao longo de todo o processo;
4 fases-chave da Teoria da Mudança
Agora que conhece todos os benefícios que pode conseguir ao implementar a Teoria da Mudança, vamos apresentar-lhe as quatro fases-chave que deve considerar antes de iniciar a sua estratégia e as questões que deve colocar em cada uma das etapas.
Ao ponderar de forma generalizada sobre estas perguntas vai ter uma visão mais ampla sobre as suas metas e perceber se é um plano que pode ser concretizado ou se deve reavaliar esse caminho.
Fase 1. Identificar o contexto de atuação
Nesta etapa é importante perceber o enquadramento em que vai decorrer o seu plano:
- Qual a realidade atual da sua OSC?
- Em que circunstâncias se vai desenvolver o projeto/programa?
Fase 2. Estabelecer a direção que vai tomar para criar a mudança e como se vai desenrolar
Definir a direção que vai tomar para poder atingir as suas metas. Pondere sobre a mudança que quer implementar e o que é necessário para cada passo:
- Quais os objetivos que querem atingir?
- Que resultados pretendem alcançar?
- Qual o impacto esperado?
- Que ações devem ser tomadas para atingir a meta?
Fase 3. Analisar suposições e hipóteses
Crie a sequência das ações e analise se fazem sentido para atingir a sua meta. Questione-se sobre:
- A sequência de acontecimentos que determinou é exequível?
- Que pressupostos estão envolvidos nessa proposta?
Fase 4. Perceber se o plano pode ser realizado
Na última fase, chegou o momento de verificar se o seu plano pode, realmente, funcionar e levar aos resultados pretendidos:
- As hipóteses que apresentou são verdadeiras?
- O sequenciamento de acontecimentos que determinou, realmente aconteceria?
Se perceber que o plano não é possível de colocar em prática, deve voltar à fase 2 e reajustar as ações que ponderou e a sua sequência para atingir as metas.
10 passos para implementar a Teoria da Mudança na sua OSC
Se parou um pouco para pensar nas questões apresentadas no ponto anterior, já fez metade do trabalho necessário para implementar a Teoria da Mudança na sua OSC.
Em seguida, apresentamos os 10 passos que deve seguir para definir a sua estratégia, com sucesso.
Passo 1. Análise da situação e contexto
Comece por refletir sobre a situação que a sua iniciativa quer resolver.
De forma resumida, explique qual é o ‘problema’ que quer resolver com este plano; que comunidades são afetadas por esta questão; quais as consequências que traz para o mundo; as causas da sua origem; principais barreiras que podem limitar a sua ação; como pode ultrapassar essas barreiras; que outras OSC já estão a trabalhar para essa causa e o que não foi feito ainda que devia ser colocado em prática.
Para o ajudar nesta análise, procure recolher informações relevantes sobre o tema, tanto em bibliografia e estudos já apresentados, como no terreno, junto das pessoas afetadas ou parceiros que desenvolvem esforços junto delas.
Reflita, também, sobre o que a sua OSC pode fazer para solucionar o problema, que recursos dispõe e como podem fazer a diferença.
Passo 2. Definição do público-alvo
Neste passo, deve definir o público-alvo da sua iniciativa, ou seja, quem são as pessoas que a sua OSC pretende ajudar.
Pense quem sairá beneficiado com o projeto que quer desenvolver (ex: capacitar mulheres de uma comunidade vulnerável a confecionar peças de roupa, através de voluntariado de competências. O seu público-alvo são essas mulheres).
O seu projeto pode até ter mais do que um público-alvo. O importante é descrever as características (como idade, localização, educação, história pessoal, etc.) e identificar fatores relacionados com o problema que querem resolver (relacionado com comportamentos, atitudes, conhecimento, etc.).
Passo 3: Definição do Impacto
No passo 3 deve ponderar sobre qual o impacto que quer ver acontecer. Isto é, definir a mudança sustentada que vai ganhar lugar com a sua intervenção.
O impacto deve ser algo que mude a vida dos participantes para melhor, mas, também, deve ser sustentável a longo prazo e tangível. Uma boa forma de colocar as coisas em perspetiva e ajudá-lo a definir o impacto é pensar como querem que a situação que contextualizaram no passo 1 melhore, tanto dentro de um ano, como de 5, com a ajuda do vosso projeto (ex: aumentar a empregabilidade das mulheres da comunidade; melhorar as suas condições de vida; etc.)
Passo 4: Estabelecer os Resultados
Os resultados são as alterações a curto prazo que os beneficiados vão ter e que contribuem para o impacto, a longo prazo.
Estes resultados dizem respeito às mudanças na capacidades ou ativos dos beneficiados para que alcancem o impacto e, normalmente, ocorrem em semanas ou meses.
Questionem-se sobre o que precisa ser alterado nos seus comportamentos, competências ou atitudes. Por exemplo, um resultado seria as mulheres da comunidade vulnerável ganharem competências na confeção de peças de roupa, durante 3 meses, para conseguirem arranjar um emprego ou trabalharem por conta própria. A longo prazo o impacto será aumentar a empregabilidade nessa comunidade.
Passo 5: Definir as Iniciativas
Defina, agora, o que deve ser feito para atingir os resultados do ponto anterior.
É importante, pensar em tudo o que é necessário organizar para colocar as suas iniciativas em prática, nomeadamente:
- Que serviços/campanhas vai realizar?
- Quais são as principais características das atividades realizadas?
- Qual a duração e frequência das atividades com o público-alvo?
- Quem vai gerir o trabalho dessas atividades?
- Quais os recursos disponíveis para uso?
- Como será feita a divulgação das atividades junto do público-alvo?
Após responder a estas questões (e outras que se mostrem necessárias) deve conseguir ter um planeamento completo que permita colocar em prática as suas atividades.
Passo 6: Estipular os Mecanismos de mudança
É importante perceber como as iniciativas vão causar os resultados desejados. Para conseguirem estipular os mecanismos de mudança deve descrever como desejam que as atividades sejam experienciadas pelo público-alvo, ou seja, o que querem que sintam, pensem ou façam no decorrer das atividades.
Um exemplo é desejarem que as mulheres de comunidades vulneráveis se sintam confiantes com as capacidades novas que adquiriram com o projeto e motivadas na procura de um emprego.
De igual forma, deve pensar sobre a qualidade do serviço que querem oferecer durante o projeto para que os mecanismos de mudança tenham os efeitos desejados e os resultados sejam alcançados.
Passo 7: Determinar o Sequenciamento
Neste passo, deve determinar a ordem a seguir para que os resultados e impactos esperados, aconteçam. Para poder estabelecer uma sequência, foque-se nos resultados e mecanismo e, quando estabelecer uma ordem, verifique se faz sentido, tendo em conta o impacto desejado.
A sequência não precisa de ser um quebra-cabeças. Normalmente, surgirá uma ordem natural de acontecimentos, que deve ser vista de forma ampla e ter apenas 2 ou 3 etapas.
Por exemplo:
- Fase 1 – arranjar os recursos necessários (financiamento; espaço, parcerias; professor para as aulas de costura, etc.);
- Fase 2- colocar o projeto em prática (divulgação do programa; captação de participantes, desenvolvimento do programa, etc.);
- Fase 3 – acompanhamento e avaliação de impacto (acompanhamento dos participantes após o projeto e avaliação de resultados e impacto para determinar o sucesso das iniciativas).
Podem, também, ocorrer situações particulares em que não faz sentido criar uma sequência de ações.
Passo 8: Criar o Diagrama da Teoria da Mudança
Esta é uma ferramenta útil de comunicação do projeto. Ao construir um diagrama vai conseguir explicar visualmente, de forma rápida e clara, a relação esperada entre as atividades, os mecanismos de mudança, os resultados e o impacto.
Não se preocupe se deixar de fora alguma informação. Neste caso, e para ter uma comunicação eficaz, menos é mais. Dados sobre o contexto e os pressupostos podem ficar em anexo.
O diagrama da mudança pode obedecer a diferentes formatos e lógicas de composiçao. Abaixo, você vê um exemplo:
Passo 9: Definir outros stakeholders e fatores externos
O seu projeto pode não depender só do trabalho da sua OSC e ter a influência de fatores externos.
No passo 9 vamos definir como o ambiente externo pode afetar os objetivos do projeto. Deve pensar sobre o que precisam que outras partes interessadas façam para apoiar esta teoria da mudança ou como estas podem afetar os seus resultados. Caso seja necessário, pondere formas de incentivar essas partes a ajudá-lo.
Da mesma maneira, é preciso pensar em fatores fora do seu controle que podem ajudar ou prejudicar (como novas políticas, um movimento de opinião pública a ganhar espaço, o ambiente socioeconómico, etc.). Se existir algo que impeça o público-alvo de se envolver no projeto ou alcançar as mudanças propostas é importante prever antecipadamente para poder contornar os problemas.
Passo 10: Estabelecer os Pressupostos
É hora de analisar a Teoria da Mudança que criou durante os últimos 9 passos e analisar os pontos fracos e de incerteza, desta proposta.
Pode separar essa análise em 4 pressupostos:
- Entrega: perceber se conseguem realmente alcançar o público-alvo desejado e oferecer o que a proposta propõe. Verificar se a equipa e voluntários têm as competências, recursos e apoio necessários e, caso não tenham, o que precisam de fazer para conseguirem obtê-los.
- Impacto: Avalie se o modelo que definiu vai conseguir fazer as mudanças necessárias e se as atividades que foram planeadas vão surtir o efeito esperado. Perceba se existem exemplos no mundo real que vos façam questionar que alguma evidência do plano não vai corresponder ao que planeavam ou que corroboram as vossas escolhas.
- Efeitos não intencionais: aqui avalie o que pode acontecer de errado ou inesperado. Pondere sobre que riscos existem e se, ao colocarem o projeto em prática, vão prejudicar de alguma forma o público-alvo.
- Processo: Analise tudo o que foi feito para elaborar a teoria da mudança. Tinham os recursos e conhecimentos necessários para desenvolver uma boa proposta de antemão? Ouviram os beneficiários e levaram as suas opiniões em consideração?
Dicas para uma boa Teoria da Mudança
Já tem todas as informações para implementar a sua Teoria da Mudança. Deixamos 4 dicas simples que deve sempre ter em mente para que não se perca no processo:
- Foque nos resultados que realmente importam para a sua OSC;
- Utilize a Teoria da Mudança como uma bússola e não, como um conjunto de regras rígidas que tem que seguir;
- Envolva todos os stakeholders do projeto para que ter mais sucesso;
- Não se preocupe se a sua primeira Teoria da Mudança não ficar perfeita. Com a ajuda do último passo vai poder perceber melhor o que está errado e reajustar o que for necessário.
Se tem dúvidas sobre como pode medir o impacto gerado com a sua Teoria da Mudança, veja o nosso artigo Como fazer uma avaliação de impacto social, onde vai encontrar várias dicas e insights sobre o assunto.