Teoria da Mudança: ferramenta para planejar e medir impacto social
Tem dificuldade em medir o impacto das iniciativas da sua organização social? Então está na hora de implantar um novo modelo para planejar e medir o seu impacto – a Teoria da Mudança. Se nunca ouviu falar sobre esta estratégia, saiba que trata-se do método mais popular entre as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) com foco em transformação social.
Para fazer iniciativas com resultados favoráveis, que solucionem um problema social ou ambiental, é necessário realizar um trabalho estratégico de planejamento prévio. A teoria da mudança ajuda a criar um painel visual com todas as partes necessárias para analisar a eficácia e viabilidade de projetos sociais de forma simples e funcional. Além disso, é facilmente legível por qualquer membro da empresa.
Neste artigo, você encontrar informações sobre:
- O que é a Teoria da Mudança e para que serve;
- Passo-a-passo (em 10 etapas!) para criar a sua estratégia;
- Dicas úteis para a sua implementação.
Ficou curioso? Então continue a ler! Temos muita informação para compartilhar sobre este tema.
O que é a Teoria da Mudança e para que serve
Quais são os seus principais desafios para alcançar um objetivo? Se você identifica a falta de planejamento como um deles, saiba: não está só nessa. Frequentemente, definimos ideias e metas, mas não paramos para pensar com detalhe que caminho devemos seguir para tornar nossos planos reais.
É nesse ponto que a Teoria da Mudança foca. Esta estratégia, provavelmente originada a partir de debates promovidos pelo Aspen Institute — que deram origem ao chamado Roundtable on Community Change, nos anos 90 — encoraja as OSCs a refletirem sobre as suas metas, trocar ideias e discutir opções para, depois, definir um plano e colocá-lo no papel, com uma grande componente visual para que o rumo a seguir fique bem explícito para todos os membros da equipe.
Podemos dizer, então, e de forma resumida, que esta ferramenta funciona como um roteiro que pode ser utilizado para ajudar a sua OSC a desenvolver estratégias e tomar decisões.
Com a Teoria da Mudança, será possível:
- Ter uma visão estratégica e objetiva sobre o que é realmente preciso fazer para alcançar as suas metas;
- Criar um planejamento robusto das iniciativas que vão ser realizadas;
- Envolver todos os stakeholders numa visão voltada para a geração de valor compartilhado e benefícios mútuos;
- Orientar e alicerçar processos de decisão estratégica;
- Criar expectativas realistas sobre a iniciativa e os seus possíveis resultados;
- Apoiar processos de planejamento, monitoramento e avaliação das suas iniciativas;
- Otimizar o tempo e recursos da sua OSC e eliminar tarefas pequenas e redundantes;
- Conseguir monitorar e medir resultados ao longo de todo o processo.
Veja, neste breve vídeo animado do DIY Toolkit, como a Teoria da Mudança pode ser utilizada para definir e perseguir metas e objetivos. Ative as legendas automáticas em português para entender melhor!
4 fases-chave da Teoria da Mudança
Agora que você conhece alguns dos benefícios que pode conseguir ao implementar a Teoria da Mudança, vamos apresentar as quatro fases-chave que deve considerar antes de iniciar a sua estratégia e as questões que deve colocar em cada uma das etapas.
Ao ponderar de forma generalizada sobre estas perguntas, você vai ter uma visão mais ampla sobre as suas metas e entender se a iniciativa é, de fato, um plano que pode ser concretizado ou representa um caminho a ser reavaliado.
- Fase 1. Identificar o contexto de atuação: nesta etapa é importante refletir sobre o enquadramento em que vai decorrer o seu plano;
- Fase 2. Estabelecer a direção que vai tomar para criar a mudança e como se vai desenrolar: definir a direção que vai tomar para poder atingir as suas metas. Pondere sobre a mudança que quer implementar e o que é necessário para cada passo;
- Fase 3. Analisar suposições e hipóteses: crie a sequência das ações e analise se fazem sentido para atingir a sua meta
- Fase 4. Entender se o plano pode ser realizado: na última fase, chegou o momento de verificar se o seu plano pode, realmente, funcionar e levar aos resultados pretendido. Se perceber que o plano não é possível de colocar em prática, deve voltar à fase 2 e reajustar as ações que ponderou e a sua sequência para atingir as metas.
10 passos para implementar a Teoria da Mudança na sua OSC
Se você parou um pouco para pensar nas questões apresentadas no ponto anterior, já fez metade do trabalho necessário para implementar a Teoria da Mudança na sua OSC.
Em seguida, apresentamos os 10 passos que deve seguir para definir a sua estratégia, com sucesso.
Passo 1. Análise da situação e contexto
Comece refletindo sobre a situação que a sua iniciativa quer resolver.
De forma resumida, explique qual é o ‘problema’ que quer resolver com este plano. Busque respostas a perguntas como:
- que comunidades são afetadas por esta questão?
- quais as consequências que traz para o mundo?
- causas da sua origem?
- principais barreiras que podem limitar a sua ação?
- como pode ultrapassar essas barreiras?
- que outras OSC já trabalham para essa causa e o que não foi feito ainda que deveria ser colocado em prática?
Para te ajudar nesta análise, procure recolher informações relevantes sobre o tema, tanto em bibliografia e estudos já apresentados, como no terreno, junto das pessoas afetadas ou parceiros que desenvolvem esforços junto delas.
Reflita, também, sobre o que a sua OSC pode fazer para solucionar o problema, de que recursos dispõe e como podem fazer a diferença.
Passo 2. Definição do público-alvo
Neste passo, deve definir o público-alvo da sua iniciativa, ou seja, quem são as pessoas que a sua OSC pretende ajudar.
Pense em quem sairá beneficiado com o projeto que quer desenvolver (ex: se for capacitar mulheres de uma comunidade vulnerável a confecionar peças de roupa, através de voluntariado de competências, o seu público-alvo serão essas mulheres).
O seu projeto pode até ter mais do que um público-alvo. O importante é descrever suas características (como idade, localização, educação, história pessoal, etc.) e identificar fatores relacionados com o problema que querem resolver (podem estar relacionados com comportamentos, atitudes, conhecimento, etc.).
Passo 3: Definição do Impacto
No passo 3, deve ponderar sobre qual o impacto que quer ver acontecer. Isto é, definir a mudança sustentada que vai ganhar lugar com a sua intervenção.
O impacto deve ser algo que mude a vida dos participantes para melhor. Também deve ser sustentável a longo prazo e tangível. Uma boa forma de colocar as coisas em perspectiva para definir seu impacto é pensar como querem que a situação que contextualizaram no passo 1 melhore, tanto dentro de um ano, quanto de 5, com a ajuda do projeto desenvolvido (retomando o exemplo anterior, os objetivos de médio e longo prazo poderiam ser aumentar a empregabilidade das mulheres da comunidade; melhorar as suas condições de vida; etc.)
Passo 4: Estabelecer os Resultados
Os resultados são as alterações a curto prazo que os beneficiados vão ter e que contribuem para o impacto a longo prazo.
Estes resultados dizem respeito às mudanças nas capacidades ou nos ativos dos beneficiados para que alcancem o impacto. Normalmente, ocorrem em semanas ou meses.
Questione-se sobre o que precisa ser alterado nos seus comportamentos, competências ou atitudes. Por exemplo, um resultado seria as mulheres da comunidade vulnerável ganharem competências na confeção de peças de roupa em um prazo de 3 meses, para, assim, conseguirem arranjar um emprego ou trabalharem por conta própria. A longo prazo, o impacto será aumentar a empregabilidade nessa comunidade.
Passo 5: Definir as Iniciativas
Defina, agora, o que deve ser feito para atingir os resultados do ponto anterior.
É importante pensar em tudo o que é necessário organizar para colocar as suas iniciativas em prática, como:
- Que serviços/campanhas vai realizar?
- Quais são as principais características das atividades realizadas?
- Qual a duração e frequência das atividades com o público-alvo?
- Quem vai gerir o trabalho dessas atividades?
- Quais os recursos disponíveis para uso?
- Como será feita a divulgação das atividades junto do público-alvo?
Após responder a estas questões (e outras que se mostrem necessárias), você deve conseguir estruturar um planejamento completo, que permita colocar em prática as suas atividades.
Passo 6: Estipular os mecanismos de mudança
É importante entender como as iniciativas vão causar os resultados desejados. Para conseguir estipular os mecanismos de mudança, você e sua organização devem descrever como desejam que as atividades sejam experienciadas pelo público-alvo. O que querem que sintam, pensem ou façam no decorrer das atividades?
Um exemplo é desejarem que as mulheres de comunidades vulneráveis se sintam confiantes com as capacidades adquiridas com o projeto e motivadas na procura de um emprego.
Da mesma forma, sua OSC deve pensar sobre a qualidade do serviço que quer oferecer durante o projeto para que os mecanismos de mudança tenham os efeitos desejados e os resultados sejam alcançados.
Passo 7: Determinar o sequenciamento
Neste passo, é preciso determinar a ordem a segiur para que os resultados e impactos esperados aconteçam. Para estabelecer uma sequência, mantenha o foco nos resultados e mecanismos e, quando estabelecer uma ordem, verifique se faz sentido, tendo em conta o impacto desejado.
A sequência não precisa de ser um quebra-cabeças. Normalmente, surgirá uma ordem natural de acontecimentos, que deve ser vista de forma ampla e ter apenas 2 ou 3 etapas.
Por exemplo:
- Fase 1 – obter os recursos necessários (financiamento; espaço, parcerias; professor para as aulas de costura, etc.);
- Fase 2- colocar o projeto em prática (divulgação do programa; captação de participantes, desenvolvimento do programa, etc.);
- Fase 3 – acompanhamento e avaliação de impacto (acompanhamento dos participantes após o projeto e avaliação de resultados e impacto para determinar o sucesso das iniciativas).
Passo 8: Criar o diagrama da Teoria da Mudança
O diagrama da teoria da mudança é uma ferramenta útil de comunicação do projeto. Ao elaborar o seu, você vai conseguir explicar visualmente, de forma rápida e clara, a relação esperada entre as atividades, os mecanismos de mudança, os resultados e o impacto.
Não se preocupe se deixar de fora alguma informação. Neste caso, e para ter uma comunicação eficaz, menos é mais. Dados sobre o contexto e os pressupostos podem ficar em anexo.
O diagrama da mudança pode obedecer a diferentes formatos e lógicas de composição. Abaixo, você vê um exemplo:
Passo 9: Definir outros stakeholders e fatores externos
O seu projeto pode não depender só do trabalho da sua OSC e ter a influência de fatores externos.
No passo 9, vamos definir como o ambiente externo pode afetar os objetivos do projeto. Sua organização deve pensar sobre o que precisam que outras partes interessadas façam para apoiar esta teoria da mudança ou como estas podem afetar os seus resultados. Caso seja necessário, pondere formas de incentivar essas partes a ajudá-los.
Da mesma maneira, é preciso pensar em fatores fora do seu controle que podem ajudar ou prejudicar (como novas políticas, um movimento de opinião pública a ganhar espaço, o ambiente socioeconômico, etc.). Se existir algo que impeça o público-alvo de se envolver no projeto ou alcançar as mudanças propostas, é importante prever antecipadamente para, então, contornar os problemas.
Passo 10: Estabelecer os Pressupostos
É hora de analisar a Teoria da Mudança que criou durante os últimos 9 passos, entendendo os pontos fracos e de incerteza da proposta.
Você pode separar essa análise em 4 pressupostos:
- Entrega: entender se conseguem realmente alcançar o público-alvo desejado e oferecer o que o plan propõe. Verificar se a equipe e os voluntários têm as competências, recursos e apoio necessários e, caso não tenham, o que precisam fazer para obtê-los.
- Impacto: avaliar se o modelo que definiu vai conseguir executar as mudanças necessárias e se as atividades que foram planejadas vão surtir o efeito esperado. Entenda se existem exemplos no mundo real que os levem a acreditar que alguma evidência do plano não vai corresponder ao que planejavam ou que corroboram as escolhas feitas.
- Efeitos não intencionais: avalie o que pode acontecer de errado ou inesperado. Pondere sobre que riscos existem e se, ao colocarem o projeto em prática, vão prejudicar de alguma forma o público-alvo.
- Processo: analise tudo o que foi feito para elaborar a teoria da mudança. Tinham os recursos e conhecimentos necessários para desenvolver uma boa proposta de antemão? Ouviram os beneficiários e levaram as suas opiniões em consideração?
Dicas para uma boa Teoria da Mudança
Agora você já tem em mãos todas as informações essenciais para implementar a sua Teoria da Mudança. Deixamos 4 dicas simples que deve sempre ter em mente para que não se perca no processo:
- Foque nos resultados que realmente importam para a sua OSC;
- Utilize a Teoria da Mudança como uma bússola e não como um conjunto de regras rígidas;
- Envolva todos os stakeholders do projeto para ter mais sucesso;
- Não se preocupe se a sua primeira Teoria da Mudança não ficar perfeita. Com a ajuda do último passo, vai poder visualizar o que está errado e reajustar o que for necessário.
Se tem dúvidas sobre como pode medir o impacto gerado com a sua Teoria da Mudança, veja o nosso artigo Como fazer uma avaliação de impacto social, onde encontra várias dicas e insights sobre o assunto.